sexta-feira, 27 de abril de 2012

A descoberta de Salta, na Argentina


Por Clarissa T.M. Bianchi*

Pode até parecer um pouco arrogante o slogan de Salta (“A Linda”), mas basta conhecê-la pra concordar e se apaixonar. Tanto que o complemento do slogan é que de “tan Linda, se enamora”.

Eu me apaixonei por Salta. Atualmente, ela é o quarto lugar mais procurado a se visitar na Argentina. Entrou no circuito turístico principalmente por conta das três múmias achadas em uma expediçao da National Geografic ao monte Llullaillaco. Sob o gelo e as rochas, havia três crianças incas, todas em perfeito estado de conservação: uma menina de seis anos, um menino de sete e uma adolescente de 15, que eles apelidaram de "a donzela".
Para ser sincera, esta foi a última “atraçao” que visitei em Salta, o que me deixou até um pouco angustiada em ver aquelas criacinhas mumificadas.  De qualquer forma, ir ao Museu de Arqueologia de Alta Montanha é obrigatório, já que oferece a história destas múmias e como elas foram encontradas, seus objetos e significados.

Salta, a cidade em si, é muito legal. Aquela coisa típica com uma praça central suntuosa que aglomera a catedral e os principais restaurantes. A qualquer hora do dia ou da noite tem gente passeando por lá. Uma boa oportunidade para se parar em qualquer um dos restaurantes ou bares e comer as deliciosas empanadas saltenhas, cada lugar tem sua receita especial; e, nesse caso, vale experimentar cada uma delas. Aconselho fugir das parriladas. Até agora estou tentando entender o porquê de tanto orgulho num aglomerado de diferentes carnes em cima de uma chapa quente – e isto que adoro carnes! Mas as empanadas compensam.

Salta é linda e grande. Prepare-se para viajar bastante de carro para chegar aos lugares. A estrada para mim foi um dos principais atrativos. Todo o caminho é sinalizado, um convite para conhecer as diferentes paisagens que ela oferece. Logo saindo de Salta é como uma estrada comum, rodeada de grandes pastos e plantações milho sem fim. Ao começar uma subida que mal se percebe (mas se sente a pressão) deparamos com inusitadas formações, que lembram muito cânions com um rio, proveniente do degelo do topo das montanhas, que cruza todo o caminho. Mas estas formações geológicas são únicas, apresentam inclinações inusitadas que nunca vi antes e a cada metro percorrido ela muda parecendo que alguém chacoalhou a terra ou assoprou o barro.

E foi nesse caminho, seguindo a Cafayate (mais ou menos três horas de Salta) que paramos nas formaçoes geológicas Quebrada de las Conchas.  Lá entra-se na Garganta do Diabo (uiiii), um buraco no meio das rochas onde se pode aventurar um pouco na sua aptidão de escalar e ir adentrando cada vez mais pra ver até onde este buraco chega. Mesmo grávida de oito meses eu fui, subi, escalei e valeu a pena! Nada muito difícil, até porque meu filho de três anos foi atrás.
Um pouco mais adiante se encontra o Anfiteatro, que é algo como um enorme, gigantesco espaço no meio de paredes rochosas que alcançam “um limite sem limite” acima de nossas cabeças. Mal dá para fotografar de tão alto e largo que este paredao se faz ao nosso redor gerando um eco estrondoso.
Seguimos viagem rumo a Cafayate, em um caminho que nos surpreendeu, com um rebanho de cabras bem no meio da pista e lhamas boazinhas nos acostamentos.

Chegamos à região de maior produção de vinho de Salta. Cafayate é um lugar único em termos meteorológicos. A variação de temperatura entre o dia e a noite tem uma oscilação que pode chegar a 23 graus Celsius de diferença; e isto torna suas uvas únicas juntando com uma terra de propriedades singulares.  Mas depois chegaremos aos vinhos.

Llamas vistas da estrada
Chegando a Cafayate encontra-se uma cidade que mistura a tradição com a modernidade.  A tradição fica por conta dos vinhos e a modernidade vem de seus frequentadores. No caminho, vimos muitos “gringos” pedalando com suas bikes, nos bares a diversidade se faz presente na composição dos casais nas mesas de bar e por todo lado se vê pousadas e albergues para aqueles que quererem curtir o lugar sem precisar se hospedar nos hotéis luxuosos (provavelmente caros) ao lado das bodegas/vinícolas.

Foi em um desses luxuosos que ficamos, com o devido agradecimento ao Ministério do Turismo, que nos ofertou essa estadia.  Nos hospedamos no hotel Pátios de Cafayate, que fica ao lado da Bodega el Esteco.

Do alto da vinícola se vê “um mar sem fim” de parrerias... coisa linda!! E nesse meio do mar encontra-se o hotel, um casarão com pé-direito alto, pátios e mais pátios com fontes e laranjeiras. Desde uma piscina no meio de um gramado se avistam as cadeias montanhosas que rodeiam toda Salta. Elas nos abraçam juntamente com as uvas. É realmente de não querer sair mais de lá, isto sem falar da noite e o céu, que de negro não tem nada, é só estrelas, estrelas e estrelas iluminando uma imensidão.
Bodega el Esteco
E bem ao lado do hotel encontra-se a Bodega el Esteco que nos oferta uma maravilhosa degustação de seu vinho branco de uva Torrontes, exclusiva da região, além de outros tintos, espumantes e rosés. Se você nao é daqueles que cospe, dá até para ficar alegrinho...

Nosso destino final em Salta se encontra nas Thermas de Rosário de La Fronteira, mas, para chegar lá, teríamos de voltar à cidade de  Salta, passar a noite e retomar a viagem no dia seguinte. No entanto, no caminho de retorno, fizemos uma curva num povoado e chegamos ao Dique de Cabra Corral. Lá encontra-se o reduto de esportes radicais de Salta. Por cima da ponte que cruza o segundo maior dique da Argentina, pode-se saltar de bungee, tiroleza entre outras atraçoes nao tao radicais como uma monótono passeio de barco a uma pequena ilha que promete e realizaçao de 3 desejos em 3 meses (depois conto se deu certo).  O passeio de barco é uma daquelas coisas que a gente faz para alertar o outro a não fazer, mas pra quem tem coragem o bungee sempre tem a sua validade.

Chegamos de volta à cidade de Salta onde fomos convidados a uma Peña no resturante La Casona del Molino. Na verdade, o restaurante é a tal Peña, algo como um lugar onde a cultura se destaca na decoração, comida e qualquer um que quiser pega um violão e começa a cantar as músicas folclóricas. Momento digno de arrepiar. Este é um lugar que recomendo mesmo ao visitar na cidade.

No dia seguinte, fomos às Thermas de Rosário de La Frontera. Algo surreal. Lá onde ficamos, e acredito que só tenha ele, é um dos hotéis, se nao for ‘o’ hotel, mais antigo da Argentina. O site do hotel é muito moderno para aquilo que realmente encontramos lá. Ele foi fundado em 1921 pelo Dr. Antonio Palau, nome que você encontrará em toda Salta no rótulo das garrafas de água mineral.

O hotel tem de tudo para ambientar um roteiro de filme de terror com seus longos corredores, pisos de madeira, uma estrutura que merece uma boa recuperação, destacando o mais que centenário elevador parisiense com sua porta pantográfica dupla e capacidade para somente três pessoas. Não tem o aconchego de um hotel de rede ou com estrelas a mais, porém, a inebriante atmosfera antiga e os rituais e piscinas com as águas termais curativas e imersão no barro radioativo completam esta insusitada visita.
Acredito que com o devido investimento para um restauração hotel voltará a seus dias de glória como teve no pasado. Para quem gosta dessa parte mais histórica, por todo hotel encontra-se fotos antigas de presidentes e visitas ilustres que completam esse ar assombrado que não tem como ignorar.

Salta é grande, linda e apaixonante. É preciso colocá-la no roteiro de viagem e acredito que muito em breve o governo trará ao Brasil muitos incentivos ao turismo implementando voos diretos e uma interação mais direta com os interesses dos viajantes brasileiros.
É isso!

*Amiga da faculdade, Clarissa também é jornalista e atualmente mãe do Theo e da Isabela, ainda na barriga

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