Seja quanto tempo você decidir passar ali, o importante é percorrer o centro histórico, dentro dos muros, pois é onde tudo começou. Basicamente, Colonia del Sacramento se divide entre esta parte antiga e a rua da orla da praia (Ramblas Costanera), onde ficam os hotéis mais modernos e as casas de veraneio (dos argentinos!).
A cidade é bem pequena – são 26 mil habitantes. Com uma caminhada de menos de quatro horas é possível percorrer todo o centro histórico. Quem conhece Parati, no Brasil, encontra entre estas duas cidades alguma semelhança.
Eu fiquei duas noites e quase três dias lá, o que foi muito. A ideia inicial era visitar alguma vinícola perto (tinha gostado da Los Cerros de San Juan), mas, no fim, fazendo as contas, iria sair muito caro e já havia ido a outras duas bodegas em Montevidéu (leia: Dicas para viajar ao Uruguai).
Para não morrer de tédio, decidi fazer o passeio do Bus Turístico. Custa 25 dólares, mas parece que para quem compra ida e volta pelo Buquebus de Buenos Aires ganha o tour. O passeio consiste em um percorrido em ônibus pelos pontos turísticos fora do muro. São dez pontos e você pode descer e subir do ônibus quantas vezes quiser. No ônibus, com o audioguide disponível em português (falado por um uruguaio), espanhol e inglês, você fica sabendo um pouco mais da história da cidade.
O passeio vale principalmente para conhecer “o todo”, pois passa pela orla inteira, Plaza del Toros – datada de 1908, mas na qual não se pode entrar pois existe o risco de estrutura desabar – chegando até o hotel Sheraton, distante 7 km do centro.
O passeio do Bus Turístico inclui também um tour a pé pelo centro histórico. Parte a cada meia hora do ponto número 1. Gostei do guia, apesar de ele não ter passado por todos os pontos que o mapa entregue mostrava. Mas aprendi, por exemplo, que Colonia del Sacramento foi a primeira cidade do que hoje é o Uruguai.
Plaza del Toros |
A parte antiga de Colonia foi tombada pela Unesco como Patrimônio Histórico Mundial. Ao conhece-la, fica bem claro o porquê.
Ao percorrer as vielas e ruas do centro histórico, repare na Calle de los Suspiros, onde as chicas de vida fácil ficavam. Uma casa rosa mais ao fundo marca o primeiro prostíbulo do Uruguai, onde a prostituição é legalizada desde 1930.
A parte histórica – e onde tudo começou – fica numa ponta, rodeada pelo Río de la Plata. Assim, a muralha foi construída na parte terrestre ligando um lado a outro para blindá-la. A muralha é alta e larga para proteger a cidade dos muitos ataques que Colonia sofreu ao longo dos anos de ocupação. Os combates não se davam pelo mar, porque os barcos atolavam nos bancos de areia que circundam a ponta.
Durante o tour, o guia mostrou também as diferenças nos estilos de construção das casas portugueses (com telhas e paredes que não iam até o teto, deixando um ambiente mais aberto) e espanholas (sem telhas, teto reto e paredes que fecham todo o ambiente). O jeito de fazer ruas também se difere. Enquanto os portugueses faziam em V para a água escorrer pelo centro, os espanhóis preferiam o escoamento pela lateral – e há de se lembrar de que naquela época não havia esgoto, sendo todos os dejetos lançados nas ruas (eca!).
Por fim, a igreja. Como todas as ocupações portuguesas, em Colonia, não poderia faltar uma igreja, já que tradicionalmente os portugueses escolhem o local mais alto do lugar e lá constroem uma templo. A de Colonia data de 1705, mas a versão que vemos hoje não é original, uma vez que ela sofreu ataques. E sendo Manuel Lobo devoto do Santíssimo Sacramento, esta imagem é a única que existe na igreja. Já os espanhóis prezaram mais pelas praças – daí a Plaza Mayor ter tanto destaque.
Farol: é possível subir as escadas para chegar ao topo |
O Bus Turístico é uma boa opção para conhecer a cidade. E você ainda aprende um pouco da história da ocupação da América Latina.
Existem seis museus, bem pequenos. Comprando um passe por 55 pesos uruguaios, o turista tem direito a visitar todos. Fui ao museu português, que retrata uma casa da metade do século XVIII ao museu nacional e à Casa Nacarello.
O farol, construído perto dos muros do convento dos padres franciscanos, data de 1695. É possível subir, pelas escadas, até o topo e avistar toda Colonia com Buenos Aires ao fundo.
Na calle Ituzaingó, fora dos muros, a loja La Vaquita vende artesanato e comidinhas locais, como os tradicionais doces de leite e alfajores.
De um pulo na loja La Viñería (Calle de San José, 170) para comprar garrafas de tintos e brancos produzidos na região. A proprietária é uma fofa e contou a história de vários rótulos. Ela disse ainda que está programando degustações de vinhos nacionais, com exemplares da região de Carmelo. (Leia: Vinhos para trazer do Uruguai)
A comida típica do Uruguai é um sanduiche tipo x-tudo chamado Chivito. Confesso que não fui tão ousada a ponto de esquecer de vez a dieta e experimentá-lo. Parece ser enorme e, como não faz muito o meu gosto, nem posso arriscar um palpite se é bom. Para beber, o médio médio também é bastante típico do país, segundo disse o guia do tour pelo centro histórico. Trata-se da mistura de metade de vinho branco e metade de espumante.
Experimente os vinhos locais elaborados principalmente com a uva símbolo do Uruguai, a Tannat. A região onde Colônia se encontra também é produtora de vinhos. A campeã e mais conhecida pelas bodegas é a cidade vizinha Carmelo. Saindo de Colonia del Sacramento, as vinícolas estão distantes cerca de 70 quilômetros.
A comida, em geral, não tem nada de especial. A praça central no centro histórico, chamada Plaza Mayor, concentra vários restaurantes bem do tipo para atender aos turistas – até porque não vi muitos locais por ali. Eis os restaurantes que fui:
La Boodeguita
É uma pizzaria-bar, aparentemente, frequentada por turistas e locais. Serve pizza (100 pesos uruguaios o pedaço), massas e carnes. O ambiente é bem descontraído e jovial. Eles servem um vinho da casa, elaborado pela Bernardi, cuja meia garrafa sai por 140 pesos uruguaios. É bem leve e aguado, enquanto na pizza, de massa grossa, sobressaia-se o gosto do molho. Enfim, é um lugar barato para uma refeição sem frescura em um ambiente mais descontraído.
Méson de la Plaza
É tido como o melhor restaurante da cidade, com um cardápio com mais opções de pratos e uma carta de vinhos mais ampla. Tem música ao vivo (o cantor passou depois para vender o CD) e é o mais arrumadinho que vi. Experimentei uma sopa de abóbora que estava bem gostosa.
Casa Grande
É um dos restaurantes da Plaza Mayor. Foi a simpatia do garçom (e o moscatel que ele ofereceu) que convenceu a entrar. Os pratos custam de 239 a 399 pesos uruguaios e a carta de vinhos traz opções de meia garrafa (que eles vendem como 3/8).
Do Puerto
Uma porcaria, com cachorros entrando e saindo do restaurante. Paramos para um café (leia-se chá e chocolate quente) no fim da tarde, acompanhado por churros e doce de leite. Ai se arrependimento matasse...
É um dos mais conhecidos, porque fica perto da igreja. Tem um fusca na frente, onde, inclusive, se podem fazer as refeições. Tomamos um chimarrão (todos andam para cima e para baixo com suas garrafas térmicas e cuias, então, resolvemos que tínhamos de provar). É horrível... muito amargo. Mas o lugar era agradável e os alfajores, bem gostosos
Pulpería de los faroles
Também na Plaza Mayor, é um dos – se não o – mais movimentado restaurante de Colonia. Uma pena que a comida não faz jus a toda “badalação”. Tem opções de vinhos locais em meia garrafa.
Freddo
Na Plaza Mayor, tem um Freddo bastante convidativo para uma pausa. O café vem acompanhado de uma bolinha de sorvete de doce de leite, muito gostoso!
ONDE FICAR E QUANDO IR
A grande escolha que você tem de fazer é se quer se hospedar no centro histórico ou na parte mais moderna. Se você for durante os meses de verão e estiver em busca de curtir uma praia, eu sugiro escolher um dos hotéis da orla. Eles são mais modernos e tem vários de rede internacionais.
Segundo a guia do bus turístico, o forte de Colônia é a partir de setembro, sendo a alta temporada os meses de verão. “Em julho, tem muitos argentinos que têm casa aqui e brasileiros devido às férias escolares”, ela disse. Em agosto, quando eu fui, a cidade estava bem vazia, com os turistas concentrados no centro histórico.
Se você for no inverno e para uma noite, aconselho a escolher uma pousada na parte mais antiga, tanto dentro do muro, quanto algumas ruas depois que você deixa as muralhas. Tenha em mente que as pousadas são mais simples (nem por isto mais baratas) e antigas. Eu fiquei em uma que era uma antiga casa de 1850!
COMO CHEGAR
Se estiver no Uruguai, vá de ônibus ou alugue um carro. Desde Montevidéu, há ônibus a cada duas horas, mas é sempre bom verificar os horários antes para se programar. Os ônibus levam cerca de duas horas para chegar a Colonia.
Eu aluguei um carro na capital do Uruguai. A estrada é uma reta, bem plana e sem quase nenhum movimento. São uns 180 quilômetros, com dois os pedágios, que custam 55 pesos uruguaios.
Se estiver na Argentina, a opção é pegar um barco para fazer o trajeto Colonia-Buenos Aires. Três empresas fazem a travessia, que leva cerca de uma hora. Eu comprei da BuqueBus pelo site com algumas semanas de antecedência. Cobraram na moeda argentina e custou cerca de 200 pesos argentinos por pessoa e por trecho na classe econômica.
O Buquebus é um barcão, com poltronas (tipo como ônibus, avião). Como é bem maior que estes outros meios de transporte, oferece mais espaço para o passageiro, como corredores e lounge, além de lanchonete e dutyfree.
No barco que eu peguei, a primeira classe ficava num andar superior, com poltronas bem maiores, mesinha ao centro de uma roda de quatro lugares e – o melhor – com vista!
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Hospedagem
Quando fui: agosto de 2012
Hotel: Posada del Virrey
Preço: US$ 148/noite para duas pessoas, com café da manhã
O que achei: super bem-localizada, a pousada fica numa antiga casa de 1850. Segundo os funcionários, acredita-se que era uma residência de uma família abastada devido ao tamanho e à construção em pedra. Antes de virar pousada, foi escola e convento. Na parte debaixo, os quartos são antigos, mas limpos. O segundo andar é mais novo, mas nada muito recente. A suíte que fiquei precisava de uma reforma no banheiro e tinha uma “porta voadora” no meio da parede, lá no alto, um tanto assustador!
Por onde reservei: direto com eles, via site e e-mail.
(fotos: Thais Cerioni)
>>> Guia de hotéis e avaliação das hospedagens
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